Ao lançar, na semana passada o programa Maranhão sem Fome, o governador Carlos Brandão (PSB) pôs o dedo na ferida social mais dolorida, urgente e desafiadora. O problema se arrasta há séculos, como uma causa sem solução. Portanto, combatê-lo é uma ideia nobre, mas que exige coragem, recursos, estratégias e apoios gerais.
Não é fácil ultrapassar tantos obstáculos num estado dominado por desigualdade sociais de uma elite historicamente, cheia de privilégios, que olha a pobreza como uma doença incurável. Dados do IBGE de 2023 apontaram 64,1 milhões de pessoas vivendo em domicílios considerados de insegurança alimentar no Brasil, dos quais, 11,9 milhões em situação dramática e 8,6 milhões beirando a fome. O Maranhão era o quarto nessa situação.
A insegurança alimentar no Norte e Nordeste se apresenta em nível moderado ou grave, bem superior às outras regiões. Pela ordem, a situação ficou assim: 16% no Norte; 14,8% no Nordeste; 7,9% no Centro-Oeste; 6,7% no Sudeste; e apenas 4,7% no Sul.
O Pará, com 20,3% da população em grau de insegurança alimentar, liderava o ranking de acesso à alimentação adequada, seguido pelo Amapá, Sergipe (ambos com 18,7%) e Maranhão com 17,9%. Já Santa Catarina (3,1%), Paraná (4,8%), Rondônia e Espírito Santo, com 5,1%) estão entre os locais com acesso pleno e regular à alimentação adequada.
A partir de janeiro próximo, se ficar no governo até dezembro de 2026, Carlos Brandão terá dois anos para combater a fome e ver resultados. É pouco tempo para uma “endemia” de miséria que dura séculos. Porém, nem de longe a fome se compara a uma doença que se combate com vacina ou outros remédios.
Diz o economista e pesquisador da Unicamp, Ladislau Dowbor, que “tanto a fome como a riqueza são igualmente patológicas”, que atacam o tecido social de forma devastadora. Portanto, se quiser ver resultado em seu programa “Maranhão sem Fome”, Brandão precisa de uma aliança estadual, federal e municipal, envolvendo todos os segmentos sociais e os Poderes do Estado.
O governo Brandão contabiliza 900 mil maranhenses em situação de pobreza extrema. Uma boa parte dessa multidão já se alimenta nos restaurantes populares que, no entanto, não significam um programa de combate à fomede longo prazo. Acabou o governo, o próximo pode adotar ou não a refeição de R$ 1.
A iniciativa anunciada pelo governador tem alcance mais abrangente, pois trata-se de um programa que induz ações de Educação de qualidade com escolas dignas, formação profissional, participação do governo federal, as prefeituras, entidades empresariais, ongs e organizações comunitárias.
A parte mais importante é colocar um programa dessa magnitude em ação, com fontes de recursos financeiros e humanos, parcerias estratégicas e materiais disponibilizados. Quantos bilhões de Reais serão alocados para atender demandas tão expressivas? De onde sairão o dinheiro, tanto do orçamento do Tesouro estadual quanto de outras fontes?
O tempo é curto para enfrentar um problemas de tamanha magnitude num estado de 217 municípios e uma estrutura de pobreza esparramada tanto nas áreas urbanas, quanto na zona rural. Existem por trás da pobreza extrema do Maranhão séculos de omissão, má distribuição da renda, educação de péssima qualidade, analfabetismo, conflitos agrários, etc. etc.
O assunto é tão amplo quanto desafiador. Ao longo da história, governantes o já debaterem cm diferentes visões. Mas nunca se falou especificamente de combater à pobreza no âmbito estadual. Muito menos à fome. Já se disse, por exemplo, que os pobres preferem morar em casebres de palha por “se tratar de um modo de vida cultural”. Já de falou que o Maranhão tem pobreza, mas não tem fome.
Significa que essas autoridades obviamente, não conhecem a realidade da população quilombola, das periferias; e as expulsas do campo para as cidades pela grilagem e sua jugunçada armada. Portanto, ao anunciar o Maranhão sem fome, o governador Carlos Brandão precisa, urgentemente, começar a corrida de obstáculos, e com muitos apoiadores.
Por: imparcial